Direitos Humanos em movimento | Em defesa do Rio Melchior
- ASCOM
- há 7 dias
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25/06/2025

Do afeto à resistência: Alzirenio e Newton, a luta em defesa do Rio Melchior e do meio ambiente no DF
Desde muito jovens, Alzirenio e Newton carregam na memória a paisagem viva do cerrado e a relação com o meio ambiente e, especialmente, com o Rio Melchior, no Distrito Federal (DF). Moradores de longa data do P Sul, bairro da região administrativa de Ceilândia no DF, eles viram de perto a vegetação nativa ser substituída por concreto, as águas cristalinas se tornarem turvas e o avanço do chamado progresso tomar o lugar de rios, animais e modos de vida.
“Eu particularmente já nasci ambientalista. Tenho um apreço muito grande pela paisagem, pelos animais que compõem a natureza, pelo rio, pelos córregos, nascentes”, conta Alzirenio. “Quando eu mudei para o P. Sul, em 1979, eu brincava ali naqueles locais, naquele cerrado repleto de animais e vegetação. Com o passar dos anos, vi a modificação da paisagem. A natureza foi se desfazendo, e chegou no limite — alguém tinha que fazer alguma coisa.”
“Eu cheguei no P. Sul em 1989. Meu pai gostava muito de levar a gente, então a gente também criou uma relação afetiva com o rio. Em 2016, comecei um projeto de recolhimento de pilhas. A gente colocava recipientes em escolas, igrejas… era pra evitar o descarte incorreto desse material”, lembra Newton. “Em 2018, fui até o Melchior e encontrei esgotos clandestinos, bichos mortos e pessoas usando aquela água.”
Alzirenio e Newton se encontraram em 2021, por meio de um amigo em comum, e a indignação conjunta em relação ao rio se transformou em ação. Juntos, organizaram o Movimento Salve o Rio Melchior, iniciativa que reúne moradores, ativistas e apoiadores da causa ambiental para denunciar irregularidades e promover ações de conscientização. A atuação da dupla envolve ações educativas em instituições de ensino, mobilizações comunitárias e incidência em espaços de decisão política. O movimento se tornou referência na luta por justiça ambiental no Distrito Federal, tendo como base a vivência territorial e a defesa do direito à água e ao meio ambiente.

Desde então, atuam de forma articulada com base em três pilares: a mobilização comunitária, a conscientização nas escolas e o fortalecimento de denúncias institucionais. Em escolas como a Escola Classe Guariroba, realizam rodas de conversa e atividades sobre preservação ambiental e direito à água. “A gente trabalha nas escolas porque acredita que elas são o começo de tudo”, afirma Newton. A atuação conta com a parceria de docentes e pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), que contribuem com estudos sobre a qualidade da água e apoio técnico às denúncias feitas pelas lideranças comunitárias.
A gravidade da situação é evidente nos relatos. “Tem uma comunidade em que as pessoas estão doentes. Feridas no corpo, na cabeça. As pessoas consomem água de poços próximos ao rio”, afirma Newton. Esses dados foram levados à Câmara Legislativa do DF, durante a luta pela instauração da CPI do Rio Melchior, hoje paralisada por falta de quórum.
Já Alzirenio vê na desorganização urbana e na especulação um risco maior: “Se a gente não der um basta hoje, não vai existir mais qualidade de vida”, e complementa: “A única perspectiva que eu vejo aqui no DF é investir na educação. A organização vem através da educação. Se investir nisso, os frutos virão.”
A mobilização recente resultou em conquistas importantes na esfera institucional. Uma liminar do TJDFT suspendeu o uso da água do Rio Melchior pela usina termelétrica de Brasília, que planejava captar 110 mil litros por hora. A decisão levou em conta o nível crítico de poluição do rio, a possibilidade de agravamento ambiental e o uso de dados defasados para justificar o projeto. Além disso, a pressão popular e a atuação direta de lideranças como Newton e Alzirenio contribuíram para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) específica para investigar os impactos da contaminação no Melchior na Câmara Legislativa do DF.
“Fazemos isso tudo pra provar que, quando uma pessoa quer lutar por uma causa, ela não precisa depender de ninguém. Vai sozinha e faz o papel dela”, afirma Alzirenio. Já Newton conclui com esperança: “Acredito bastante que vamos conseguir barrar essa usina. Temos que sonhar que vai dar certo, e acreditar.”

Com histórias que entrelaçam memória, afeto e resistência, Alzirenio e Newton tornaram-se referências na defesa do meio ambiente no DF. Suas trajetórias mostram que proteger o Rio Melchior é, antes de tudo, um ato de afeto – pela terra, pela água e pelas pessoas que dependem delas para viver.
Acompanhe o movimento pelas redes sociais: @riomelchiorceilandia
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