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Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+

  • Foto do escritor: ASCOM
    ASCOM
  • 28 de jun.
  • 3 min de leitura

28/06/2025



Carta ao mundo

Sim, eu “escolhi” lutar!

 

Por Elí Cruz


Sim, eu tinha quatro anos de idade. Era (1975) quando a pergunta cortante tomou minha total atenção, em meio a uma brincadeira de rua: “Quem é esse seu filho que eu não conheço?”. Esse questionamento, vindo da nossa vizinha, amiga da minha mãe, me deixou uma ferida aberta na alma, que me causou dor por cinquenta anos.


Aos seis anos, começaram os “abusos corretivos”. Aos sete, a escola violenta, em plena Ditadura Militar (1978). Aos onze, a morte do meu pai. Aos doze, a separação da minha família. Embora não me sentisse pertencente, foi uma separação forçada e muito dolorosa.


Chegados os quinze anos, veio o primeiro afeto e o choque, com um misto de dor e culpa. Aos dezessete, a “saída” definitiva da casa da minha mãe, direto para um trabalho análogo à escravidão.


Aos dezoito, já morando em outro estado, experienciei o meu primeiro relacionamento que durou oito anos, de onde eu saí com as roupas do corpo e uma pequena caixa de livros, para nunca mais voltar.


Aos vinte e três, a conclusão do ensino médio, minha separação e meu primeiro emprego de carteira assinada.


Aos vinte e cinco, a demissão, a casa própria e a aprovação, em terceiro lugar, no serviço público. Me tornei professora.


Aos vinte e sete, a menopausa precoce e a primeira depressão.


Aos vinte e nove, após sete tentativas, veio a aprovação no vestibular para geografia, na Universidade Federal do Amapá.


Aos trinta anos, meu segundo relacionamento, onde tive, por responsabilidade premente, educar um menino de coração lindo e que desejava conhecer seu pai.


Aos trinta e dois, meu último relacionamento que durou vinte e dois anos. Durante essas últimas duas décadas, no serviço público, vieram os assédios moral e sexual, bem como, as perseguições políticas, a segunda depressão, as idas e vindas aos psicólogos e psiquiatras. Vieram os processos forjados em razão das minhas inúmeras denúncias, na tentativa de cessá-los. Aos 40, veio o mestrado.


Aos 50, minhas maiores perdas. Perdi minha mãe. Tive que lidar com minha separação conjugal, um diagnóstico de câncer de mama e uma ameaça de morte.


Esta última, veio acompanhada de uma acusação de subtração de dois aparelhos celulares e da ameaça de responder a um processo administrativo. Quando dei por mim, eu também tinha perdido a minha liberdade.


Já com cinquenta e três anos, em final de carreira, me deparei com pensamentos intrusivos: pensei em subtrair a minha vida. Como eu poderia conviver com tamanho ataque à minha honra?


Em agosto de 2024, uma “luz no fim do túnel” me fez tomar uma decisão e, um mês após, fui a São Paulo. De lá para cá, eu ainda estou tentando entender tudo o que me aconteceu até o momento em que escrevo esta carta. O destino me levou, direto e sem pausas, a uma mentora espiritual que, ao me deparar frente a frente com ela, foi como se nos conhecêssemos de longas datas.


Num dado momento, eu já fazendo as malas para voltar para casa, após inúmeras revelações, ela me chama e me diz: "Eu sabia que você viria!".


Após várias reflexões sob sua orientação espiritual, me considero uma mulher que pode voltar à vida de lutas, sem as dores e as mágoas que carreguei por meio século.

Hoje mais fortalecida do que nunca, eu reafirmo as minhas escolhas: eu escolho lutar!

 


Elí Cruz é Paraense, natural de Santarém do Pará. Cinquenta e quatro anos (54). Nascida em o8 de abril de 1971. Solteira, Professora da rede pública de ensino do Amapá. Mestra em Educação e Instituições Educacionais. Ativista e Defensora dos Direitos Humanos e Sócia fundadora do GHATA (Grupo das Homossexuais Thildes do Amapá).


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