05 de junho - Dia Mundial do Meio Ambiente
- ASCOM
- 5 de jun.
- 2 min de leitura
05/06/2025

Proteger os territórios e quem os defende é cultivar raízes para um amanhã possível
Por Edson Costa Carvalho
Ailton Krenak, em sua obra Futuro Ancestral, provoca uma interessante reflexão ao narrar sua experiência com crianças indígenas remando em uma canoa rumo à "como era antigamente”. Essa poderosa metáfora mostra como a preservação ambiental está intrinsecamente ligada à necessidade de manter vivos os saberes tradicionais, para que, a partir de então, se construa um futuro verdadeiramente sustentável. O filósofo indígena nos mostra, ainda, que proteger e preservar a natureza é também proteger e preservar o futuro.
No entanto, enquanto conceitos como "sustentabilidade" são discutidos em fóruns internacionais e escritórios climatizados, são os defensores territoriais que efetivamente garantem a conservação dos ecossistemas — ou do que ainda nos resta deles. Os Guarani Kaiowá, dos Tekohas em Mato Grosso do Sul, resistem com sangue para manter seus territórios tradicionais. Os Paiter Suruí, em Rondônia, enfrentam constantes ameaças por se oporem a madeireiros e garimpeiros que invadem com armas de fogo e grandes maquinários.
Os dados revelam uma realidade alarmante: segundo o relatório da Global Witness de 2023, o Brasil se mantém entre os países mais perigosos para ativistas ambientais, com mais de 1.440 defensores ameaçados no referido ano. A Comissão Pastoral da Terra registrou, no mesmo período, o maior número de conflitos por terra desde o início de seus registros históricos.
Cada vida perdida nessa luta representa mais que uma tragédia individual: significa a preocupante possibilidade de desaparecimento de todo um sistema complexo de conhecimentos e práticas ancestrais, sobretudo de conservação. Quando uma liderança quilombola é silenciada, extinguem-se séculos de sabedoria sobre coexistência harmoniosa com o meio ambiente — e sobre a luta constantemente travada para manter essa harmonia. A equação é clara: a proteção dos territórios tradicionais é condição imprescindível para a manutenção dos biomas brasileiros, e a segurança dos defensores ambientais é fundamental para qualquer política ambiental efetiva.
Neste 5 de junho, nosso apelo transcende a retórica comemorativa para exigir ações concretas, como o efetivo fortalecimento de políticas apropriadas, a exemplo do Programa de Proteção aos Defensores(as) de Direitos Humanos, Comunicadores(as) e Ambientalistas (PPDDH). É necessário também apoiar, de forma efetiva, as organizações locais que dão suporte a essas comunidades, além de compreender e praticar a urgência de dar visibilidade às lutas territoriais.
Esta data não pode se limitar a gestos simbólicos. O verdadeiro significado do Dia Mundial do Meio Ambiente precisa se manifestar em ação concreta, no reconhecimento de que cada violência ambiental e cada ataque aos defensores da terra representam um passo atrás na construção de uma sociedade verdadeiramente sustentável.
Que não apenas no dia 5 de junho, mas em todos os dias, nossas vozes se unam em um só coro: pela proteção das florestas, pelos direitos dos povos tradicionais e por um futuro em que a justiça ambiental seja realidade. Pois, como nos ensinam os povos originários: quando uma voz se cala, é dever de todos ecoar sua mensagem!
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ASCOM - Vida e Juventude
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