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1964 - O ano que não acabou

01/04/2024





60 anos do golpe civil-militar no Brasil



Por José Carlos Soares – Membro da Diretoria do Vida e Juventude



Convidado a trazer à tona alguns acontecimentos do período ditatorial, que teve início em 1964 e terminou em 1985, busquei como fonte de pesquisa o fascículo nº 8 da "Coleções Caros Amigos", publicado em 2007, para oferecer um rápido panorama dos momentos cruéis do regime instaurado no Brasil.


Naquele periódico, me chamou a atenção a contribuição do escritor e jornalista investigativo Percival de Souza, que em seu artigo denominado "Inferno no Paraíso" retratou o que chamou de - Cultura "do pau" na Luz e na Casa da Vovó - Escreveu o jornalista: “Ao estourar o golpe de 1964, a cultura "do Pau" estava disseminada na polícia. Chegou ao Dops na Luz, levada por Fleury (Delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, o mais temível agente da ditadura). Também chegou ao Doi-Codi, no Paraíso, chamado pelos militares de Casa da Vovó.


Os prisioneiros chegavam em sangue, feridos ou agonizantes. Pendurados no pau-de-arara, recebiam descargas elétricas. Às vezes ficavam descalços em piso molhado, o que aumentava a força dos choques. Recebiam violentos jatos de água e areia. Furadeiras elétricas perfuravam corpos. Coronhadas abriam cabeças. Socos, pontapés, afogamento, navalhas rasgando a carne, queimaduras de cigarro, ataques sexuais: torturas aplicadas pelos homens de Fleury, listadas em 'Autópsia de Medo" - Vida e Morte do Delegado Sérgio Paranhos Fleury (Livro de Percival de Souza).


Crueldade requintada: ao interrogar um padre, o investigador vestiu-se como religioso. De Bíblia na mão, na escuridão, ele torturava o padre física, emocional e espiritualmente. Agentes em bando saíam pelos corredores com uma ratazana pintada de rosa, enquanto tocavam trombone e bumbo. Tudo era tão aterrorizante que uma mulher afirmou que viu uma banheira cheia de sangue na diretoria do Dops. O jornalista não conseguiu confirmar. Mas a banheira de sangue se transformou no pesadelo dessa prisioneira.


Torturadores obrigavam presos a voltar para a cela arrastando-se; médicos reanimavam presos para suportar novas torturas. A ordem era: se matassem alguém, os agentes deveriam sumir com o corpo, sem sinais de identificação, para o caso de ser achado. No Dops um agente arrancou os dedos de um preso a punhal de lâmina afiada. O investigador Henrique Perrone levou para casa no bolso do paletó um dedo, que sua mulher encontrou. No Instituto Médico Legal, a cabeça de um foi costurada no corpo de outro.


Calcula-se que, entre 1969 e 1973, os subterrâneos da ditadura provocaram pelo menos 500 mortes.


A partir destes relatos somos instados a cobrar dos governantes contemporâneos as devidas punições a muitos dos envolvidos ainda vivos, como forma, também, de aplacar o sofrimento de inúmeras famílias que tiveram seus entes queridos massacrados e mortos naquele período sombrio. É dever de nossa geração manter permanente vigilância sobre qualquer possibilidade de engendramento de novos golpes contra o Estado Democrático de Direito, sejam eles de caráter militar ou cívico-militar, como no caso de 1964, o ano que ainda não acabou.

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