22/07/2024
Conheça a trajetória e o trabalho de Jorge Carlos e Raquel Santos, que, por meio da música e da cultura, promovem transformação social
Por Natália Teles
O Início de Uma Jornada Musical
Jorge Carlos, carioca, músico, maestro e professor, teve sua trajetória marcada pelo amor à música desde a infância. Influenciado por seu avô, que tocava acordeão, e por seu pai, músico e maestro de fanfarra, Jorge encontrou na música a sua vocação. Essa paixão, somada à experiência adquirida em sua atuação profissional, o levou a olhar criticamente para a realidade social ao seu redor, percebendo a ausência de espaços culturais e a promoção da arte, e os impactos negativos desse contexto na vida das pessoas.
Movido pela indignação diante das vulnerabilidades, privações e violências observadas em sua comunidade, Jorge, em parceria com sua esposa Raquel, multi-instrumentista e professora, viu na música um caminho para transformar essa realidade. Dessa constatação, surgiu a ideia de um projeto que utiliza a música como ferramenta de transformação social.
"As pessoas não tinham nada, viviam cercadas pela violência e desesperança, abandonadas pelo poder público. Então, começamos a perceber que a música poderia trazer esperança, alegria e força. Vendo o poder que a música tem de amor e de envolver as pessoas, fomos à luta com Amor e Arte", afirmou Jorge.
Jorge Carlos e Raquel Santos - Foto: Natália Teles
A Visão Transformadora e o Nascimento do Projeto
Em 2016, nasceu o projeto Amor e Arte, com o objetivo de atender às necessidades artísticas, culturais e sociais da comunidade. O projeto começou em um prédio abandonado na praça, onde eram oferecidas aulas de música, que deram origem a uma banda que agregou e mobilizou alunos e a comunidade. “Fizemos daquele espaço a nossa caixa de som”, comenta Jorge.
Desde o início do projeto, Jorge e Raquel estiveram à frente, tocando e organizando as atividades, abrindo as portas de sua própria casa para receber os alunos. A parceria do casal e o compromisso em oferecer o melhor para as crianças e jovens da comunidade, apesar de todas as dificuldades, foram fundamentais para a organização e consolidação da iniciativa. "Nós tínhamos o desejo de levar a música para dentro da comunidade e iniciamos o projeto", lembra Jorge.
Apesar das dificuldades e limitações iniciais, o trabalho desenvolvido gerou reconhecimento e confiança da comunidade. “O pessoal abraçou a gente”, afirmou Raquel. Os recursos para compra de instrumentos, manutenção do espaço e alimentação foram obtidos através de rifas, do auxílio da comunidade e de parceiros. "Os pais viram que estava dando certo e começaram a participar, faziam maçã do amor, pastel, e a gente ia com a banda tocando e vendendo. Assim, conseguimos juntar o dinheiro e comprar os instrumentos", comenta Raquel.
A banda do projeto cresceu e ganhou visibilidade, sendo inclusive convidada para inaugurações e eventos, uma nova realidade que proporcionou novas vivências e experiências para as crianças e adolescentes do projeto.
Foto: Natália Teles
O projeto tornou-se um ponto de encontro, inclusão e socialização. "Não existia esse contato de famílias com famílias, era cada um na sua. Conseguimos cooperar muito para a inclusão dentro da própria comunidade," afirma Jorge. A iniciativa cresceu, e passou a funcionar também em um espaço chamado Centro Comunitário Amor e Arte, que além de abrigar uma biblioteca, oferecia à comunidade aulas de informática e outras atividades artísticas, esportivas e culturais.
O projeto tornou-se uma referência de resistência e cultura, mostrando que, com união e criatividade, é possível enfrentar adversidades e criar oportunidades, mesmo em contextos difíceis.
Distribuição de brinquedos e cestas básicas - Foto: Acervo Amor e Arte.
Aulas de informática' - Foto: Acervo Amor e Arte.
Expansão e Novas Parcerias
Em 2022, o projeto passou por mudanças, marcando presença em outros municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro. Uma das ações mais recentes é a parceria com uma escola pública de Maricá, onde Jorge foi convidado para reativar e conduzir uma banda de fanfarra. A iniciativa mobilizou a escola e a comunidade escolar em torno da música e trouxe novas perspectivas para o projeto.
Sobre a parceria, Joelma Rangel, diretora da escola, comenta: "É um projeto muito importante para a comunidade e para as crianças, porque envolve não só a escola, mas toda a comunidade." Tatiane Braga, diretora adjunta, complementa: "A música ajuda de várias formas: no desenvolvimento dos conteúdos, na disciplina e fortalece o vínculo com os pais.", afirma Tatiane.
Recentemente, a banda da escola, conduzida por Jorge, participou do desfile cívico em comemoração ao aniversário de 210 anos de Maricá, com a participação das escolas e bandas da região. Um momento muito especial e marcante para todas e todos.
Foto: Natália Teles
Foto: Natália Teles
Foto: Natália Teles
Luana Martins e Diego Baltazar, pais de uma das estudantes da banda, comentaram sobre o evento e a importância do projeto. "Ela entrou na banda e se encantou. Eles incentivam bastante, gosto muito do trabalho dos dois," disse Luana. "O trabalho que o Jorge vem fazendo com as crianças de Guaratiba, Itaboraí, São Gonçalo e Santa Teresa é muito importante. Cultura, inspiração e coletividade são essenciais para a formação das crianças," afirmou Diego.
Valesca Porto, também falou ao Vida e Juventude sobre a apresentação da banda, e da importância da iniciativa para formação das/os alunos: "Esse projeto é lindo! As crianças entram de uma maneira e ao decorrer do tempo vão se transformando. A disciplina é fundamental e Jorge e Raquel fazem isso com muito amor e carinho." Thiago Porto acrescentou: "Meu filho já chega em casa querendo treinar e se aperfeiçoar, isso para mim é fantástico."
O Futuro do Projeto
Jorge e Raquel pretendem expandir o projeto para atender mais crianças e adolescentes, além de ampliar a atuação, por meio de novas atividades e atendimento aos idosos da região. A ideia é fortalecer a iniciativa por meio de novas parcerias e frentes de atuação.
Aulas de música - Foto:Acervo Amor e Arte
Atualmente, Jorge é acompanhado pelo Programa de Proteção aos Defensores(as) de Direitos Humanos, Comunicadores(as) e Ambientalistas (PPDDH). Ana Raquel, Coordenadora Técnica do Programa, destaca a importância e o impacto do trabalho desenvolvido pelo casal: “A música tem um poder transformador, e Jorge e Raquel levaram esse poder para dentro das casas e do cotidiano da comunidade, promovendo mudanças positivas na vida das famílias atendidas pelo projeto.”
Foto: Natália Teles
A ação de defensores e defensoras dos Direitos Humanos, em sua amplitude e complexidade, tem a capacidade de gerar mudanças profundas nas comunidades e trajetórias, marcadas pela falta de acesso aos direitos fundamentais. A história de Jorge Carlos e do projeto Amor e Arte é um testemunho inspirador do poder da música e da arte para transformação social.
Direitos Humanos em Movimento é uma série especial do Vida e Juventude sobre a atuação e trajetória de defensores e defensoras de Direitos Humanos no Brasil.
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Assessoria de Comunicação - ASCOM
Vida e Juventude
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